Disse o sociólogo espanhol Manuel Castells que “a
utilização da internet para desenvolver tarefas políticas ou pessoais ou
interesses concretos é o que realmente gera os níveis de interação mais fortes”.
Isso explica a velocidade com que a divulgação segmentada de um evento é mais
eficiente pelas redes sociais que nos tradicionais veículos de comunicação. As
redes conseguem aglutinar grupos de interesse e comunidades afins e de acordo
com Castells “a transmissão instantânea das idéias em um âmbito muito amplo
permite a coalização e a agregação em torno de valores”.
Exemplo recente de mobilização foi vista durante as últimas
eleições para a presidência do país em 2010. A candidata Marina Silva, do PV,
terceira colocada nas pesquisas de intenções de voto, conseguiu, por meio das
redes sociais, levar as eleições para o segundo turno.
Segundo pesquisa do Ibope nas primeiras
semanas de campanha, ela aparecia com 9% das intenções de voto, atrás de José
Serra (PSDB) com 35%, e de Dilma Rousseff (PT), com 40%. Marina utilizou as
ferramentas de mídias sociais(Twitter, Facebook) e seu blog (http://www.minhamarina.org.br/blog/) como forma de compensar o
pouco tempo de que dispunha no horário eleitoral gratuito de rádio e televisão.
Além disso, eleitores e simpatizantes espalharam a “onda verde” em correntes de
e-mail que lotavam as caixas postais de amigos e conhecidos.
E a estratégia via internet
possibilitou que ela tivesse 19,33% dos votos válidos no primeiro turno, dia 4
de outubro. Como a primeira colocada teve 46,91%, menos de 50% dos votos
válidos, a decisão teve de ser decidida no segundo turno dia 31 de outubro
entre os dois candidatos majoritários Dilma e Serra(que havia registrado no
primeiro turno, 33,61% nas urnas).
O crescimento da campanha de
Marina Silva demonstrou que a internet é uma ferramenta de comunicação com
características interativas e de participação popular mais eficiente que as
tradicionais mídias(jornais, televisão e rádio). John Tompson comenta que
apesar desses meios de comunicação produzirem “ação responsiva”, isto se faz em
“contextos diversos dos da produção, os receptores estão distantes e participam
de uma comunicação quase-mediada, pois não podem responder diretamente aos
produtores” como acontece numa comunicação face a face que o meio virtual
favorece, à semelhança da comunicação oral nos primórdios da civilização.
Apesar de apostar nesse tipo
de comunicação interativa Marina Silva não se elegeu. Ela teve uma votação
bastante significativa nos grandes centros urbanos que possuem mais acesso às
novas tecnologias e um poder aquisitivo maior, além do grau de escolaridade com
percentagens igualmente elevadas. César Sanson, doutor em sociologia pela UFPR, elencou
outros fatores tais como: valores morais e religiosos da classe média das capitais; voto
urbano de pessoas sensíveis à agenda ambiental; eleitores que queriam uma
terceira via para o antagonismo e denuncismo que tomou conta das campanhas do
PT-PSDB.
Mas o que se destaca aqui é o fato
de que houve um crescimento de sua candidatura alavancada pela divulgação na
internet, e que não conseguiu atingir um percentual maior, em parte porque
ainda é grande a exclusão digital no Brasil pois que o país ainda abriga
bolsões de pobreza e analfabetismo, incluindo o digital, não só nos estados
tidos como periféricos, mas também nos grandes centros povoados de favelas.
Ainda é grande o desafio da
democratização digital ou ciberdemocracia apregoada por estudiosos e adotado
por políticos como bandeira de modernidade em seus discursos e plataformas.
Democratizar a informação não é disponibilizar computadores ou meios de acessar
endereços eletrônicos. É mais que isso.
O pensador francês, Pierre
Lévy, defende que além de disponibilização em sites institucionais,
“informações e serviços que as administrações públicas devem aos cidadãos” e
promover o voto on-line, a democracia na internet deve abrir espaços de
“deliberação democrática ou ágoras virtuais... instrumentos de organização e
ação política, fóruns de discussão, informações de atualidade estruturadas e
bases de dados políticos de todos os tipos”, enfim, criar “uma cultura do
diálogo” oportunizando ao cidadão formas de participação e interação que o
tornem sujeito consciente de seu papel na sociedade.
Para citar este artigo:
ALCANTARA, Quézia. "Redes sociais e o impacto na campanha eleitoral para a presdiência em 2010".http://rede-e-comunicacao.blogspot.com/2011/10/redes-sociais-e-o-impacto-na-campanha.html